Wednesday, June 6, 2012

Amy Winehouse morreu, os urubus moralistas voam ao redor do corpo

Por Caíque Santos

A "alcoólatra", "drogada", "viciada" da Amy morreu. Também, quem manda usar drogas? Bem feito! Por mais chocante que seja o que acabei de escrever, essa mensagem horrorosa vem travestida (outras sem disfarces) em alguns comentários das redes sociais sobre a morte da garota. Sim, uma pessoa, além de ser um fenômeno, uma mulher de voz impressionante.

É até enojante, para os mais sensíveis, como alguns "espiritualizados" demonstram um certo contentamento quando vêem "a conseqüência do pecado" [a morte] chegando para dar uma lição aos "drogados". Ligar uma morte às drogas parece torná-la uma conseqüência merecida para quem tem a "doença" de ter "desvio moral". Sim, porque quem usa droga, na visão destes indefectíveis paladinos do que é correto, tem déficit de valores morais.

Qualquer pessoa com um pouco de vivência e senso de humanidade notava através da imprensa que a mulher vivia um inferno pessoal de grandes proporções. Isso justifica usar drogas como válvula de escape? Não! Claro que não, mas é este o ponto! Quem hoje pode se arvorar ao direito de determinar o que é "justificável" na vida pessoal de cada um? Era doença, dependência ou "safadeza"?

Pra mim a Amy Winehouse não deixa a vida como "coitadinha", muito menos como "drogada" e sim apenas mais uma entre milhões que perdeu a batalha contra a depressão, o inferno astral, as dores do mundo e todas estes "espinhos da carne" que tantas vezes nos faz também termos nosso momento "Amy Winehouse". Não creio que ela e tantos outros "heróis que morreram de overdose" sonharam em ter uma morte, seja ela "injusta" ou "merecida".

Não sei mesmo quem vive mais anestesiado e fora da realidade, o "drogado" ou os que "têm juízo" e utilizam este mais para julgar do que sentir. O abuso de QUALQUER droga (religião, inclusive) é CONSEQUÊNCIA de desajustes emocionais, psicológicos, existenciais, etc. Ao mesmo tempo passa a ser CAUSA destes mesmos alimentando um sistema corrosivo de culpas que gera mais dor e demanda mais "anestésicos". É um triste espiral de sentimentos conflituosos difícil de analisar tendo por viés as tais "virtudes morais", seja lá o que este conceito signifique em uma sociedade cristã tão doente e hipócrita.

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